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Uma viagem pantérica ao reino do jumento sedutor e do palhaço tetrafônico  

Uma viagem pantérica ao reino do jumento sedutor e do palhaço tetrafônico  


O Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores, com 1012 páginas, é dividido em dois volumes sendo o Livro 1 –  O jumento Sedutor e o Livro 2 – O Palhaço Tetrafônico, concluído antes da morte de Ariano Suassuna, é um projeto ambicioso para construção de uma nova obra prima, superior A Pedra do Reino e ao mesmo tempo  funcionando como uma espécie de testamento enigmático literário do autor, que assume ser vários personagens e resolve criar um gênero novo, o qual se transforma num romance musical, dançarino poético, teatral e videocinematográfico, graças  ao uso de recursos que o transformam num produto multimídia. O livro nos remete a assassinatos e à investigação de um caso de estupro seguido de morte. 

Além de procurar integrar na narrativa épica os elementos do seu teatro, da sua poesia, da sua rica prosa ficcional e do seu ensaio no campo literário, Ariano Suassuna procura seguir os passos dos mestres da literatura como Miguel de Cervantes, Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Lima Barreto, William Shakespeare, para tentar ser um Poieta, ou seja, “um escritor que representasse para o Brasil o que Dante era para a Itália e Cervantes para a Espanha”. Um caminho que sabia áspero e duro, com muitas pedras no meio de uma estrada com muito sol tropical e cheia de poeira.

Ele admite que o projeto é mais amplo e bem diferente do tentado pelo seu alter ego, o heroico D.Pedro de Diniz Quaderna, que também se apresentava pretenso gênio da raça e como ambicioso autor de um gênero novo: “o romance heroico-brasileiro, ibero-aventuroso, criminológico-dialético (quando investiga um crime deveras misterioso) e tapuio-engimático  de galhofa e safadeza, do amor legendário e de cavalaria épico-sertaneja”.

A obra é formada por um conjunto de cartas assinadas por Antero Savedra sob o pseudônimo de “Dom Pantero”, publicadas em um suplemento de jornal e narra a trajetória de um misto de escritor, ator, encenador, professor e palhaço – funções assumidas em vida por Ariano Suassuna, que morreu aos 87 anos -, que dedicou a sua vida à realização de uma grande obra-prima  “A Ilumiara”, elaborada a partir das obras dos seus irmãos, o romancista Auro Schabino, o dramaturgo Adriel Soares e o poeta Altino Sotero heterônimos do escritor mergulha no complexo e metafórico universo armorial.

Para o crítico  Carlos Newton Júnior, o Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores não é um livro simples e em linguagem direta de fácil compreensão para o leitor, mas uma obra difícil e para poucos leitores. Ele o compara em termos de linguagem e inovação ao Grande Sertão: Veredas, uma obra prima de Guimarães Rosa, lembrando que “só mergulha nesse universo o leitor mais maduro. Este é um livro para leitores de Ariano. Ele próprio dizia que A pedra do reino é uma espécie de introdução. Você precisa conhecê-la para entender O jumento sedutor, que é uma continuação – não no plano original, de uma trilogia, mas uma continuação”. No livro não há limite entre a realidade e a ficção, a partir de depoimentos e informações de uma gama de personagens existentes e não, para narrar do drama de um homem que ao pressentir a aproximação da morte inevitável, resolveu se confessar num livro que se propõea ser grande epopeia do povo brasileiro e em que escancara as preferências literárias, estéticas, filosóficas, políticas e até sexuais através de um mergulho referencial aos clássicos.

Mas a grande obsessão de Ariano Suassuna na construção desta alentada obra, foi mesmo denunciar o assassinato do pai, que o levou a vingar-se, através do mergulho no complexo universo literário no qual a morte é representada pela Onça Caetana. A morte do seu irmão também não escapa ao mergulho critico numa saga aventurosa de vida e morte onde tudo é permitido,  tendo como pano de fundo o descampado do  sertão em que o sol é descrito  quase uma divindade e Deus, apesar de impiedoso, ouve sempre o pedido da “Misericordiosa”, aquela que intercede em favor dos homens jogados numa terra agreste sem pai, sem mãe e sem outras referências para enfrentar os desafios cotidianos.  (Kleber Torres)

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