Como salvar a lavoura do cacau?
- Vitor Augusto Xavier
- 15 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
O presente documento corrobora a exposição verbal do colega José Carlos Castro de Macedo ao Diretor, Guilherme Galvão, feita num pequeno grupo, quando foi taxativo na implantação de um programa, a exemplo do Procacau, como catalizador da recuperação da economia do cacau.
Tanto ele quanto eu, dedicamos toda a nossa vida profissional a expensas do cacau, através da “Escola-Ceplac”, que nos ensinou o valor do trabalho, eivado de dedicação e ética. Neste momento de débâcle da região cacaueira, não poderíamos deixar de expressar a nossa gratidão através desta propositura que possa revitalizar o tripé do cacau – o cacaueiro, o agricultor e a instituição.
É preciso deixar claro que a atual crise do cacau difere de tantas outras do passado:
– A decadência do cacau, cuja região se empobreceu com a sua derrocada, passando de exportadora para importadora;
– A deterioração da Ceplac, passando de modelo eficaz para uma organização sem ânimos e sem recursos, cada vez mais declinando, sobretudo pela ingerência política insensata e descomedida; e
– A descapitalização e endividamento do produtor de cacau.
Isso significa que a recuperação das plantações e novos cacauais, dependem da solução do tripé, para o qual as ações se interdependem e são urgentes.
Primeiramente, é importante tirar a região da letargia. Quem não se lembra do Procacauque proporcionou um choque positivo em todos os segmentos da economia, alavancando-a?!
A revitalização, pois, passa por um novo Procacau, o II atrelado à solução das dívidas dos produtores, para que eles voltem a recuperar suas roças infestadas pela vassoura-de-bruxa e, também, expandi-las com novos plantios, como souberam fazer nos 10 nos de vigência do programa anterior, cujos resultados carimbaram o “Quinquênio de Ouro”. São eles os protagonistas!
Por outro lado, o citado projeto seria uma alavanca desenvolvimentista ativando o comércio, as indústrias de insumo, os investidores, energizando a região, hoje em fogo morto, além de provocar os demais integrantes do agrossistema cacaueiro, sobretudo ajuizando a pesquisa, que teria de se municiar de instrumentais para não ficar à deriva do processo.
Então, sem mais delongas, urge a implantação do Procacau-II, eivado de metas, recursos financeiros e humanos e medidas de incentivo e compensatórias a um empreendimento desta envergadura, nada adiantando as medidas paliativas e remendos, tampouco, embromações políticas. É tarefa para quem vive do agronegócio – do homem que planta ao que consome, com ênfase no setor industrial.
No caso da reestruturação da economia cacaueira sul-baiana/ capixaba, evocando o livreto divulgado pelo autor e José Carlos Castro de Macedo, 3 anos atrás – “Proposta para reativar a cacauicultura nacional”, que não teve o eco esperado, seriam estabelecidas metas substanciais de replantação (renovação de cacauais velhos e envassourados); recuperação das roças que tem condições de reversão e expansão (novos plantios):, objetivando uma nova cacauicultura de altos insumos, tendo em mente que o tempo da baixa produtividade não mais se coaduna com o momento tecnológico da agricultura brasileira, cujo salto se deu com o uso de técnicas integradas, enfocada no manejo do solo, que transformaram os cerados, antes solos imprestáveis, em terras produtivas.
E o cacau tem que começar a se preparar para esse novo momento, já existindo um exemplo exitoso de plantio de cacau em solos de tabuleiro no extremo sul da Bahia, a nova fronteira agropecuária, utilizando a fertirrigação. Acresce-se o “boom” da celulose com mais de 600 mil hectares de plantios de eucalipto com tecnologias de precisão.
Um programa dessa magnitude requer uma base de produção de mudas seminais e/ou outros materiais clonais, como acontecera durante o Procacau-I, através os campos de produção de sementes híbridas tão bem conduzidos pela Ceplac. Hoje, dispõe-se da Biofábrica, destinada a produção em escala industrial de material genético, numa área de 60 hectares, em Banco do Pedro, à margem do rio Almada, no município de Ilhéus. Possivelmente, vai ser preciso um novo choque de qualidade gerencial para voltar ao anterior nível de eficiência e eficácia.
Para implantação do Procacau-II, teria que o Governo Federal disponibilizar substanciais recursos (a serem quantificados), num espaço temporal de 10 anos, incluindo também investimentos na pesquisa, no fomento e no treinamento de pessoal, sem contar as medidas compensatórias para tornar os produtores aptos ao processo de financiamento de seus imóveis rurais, hoje incapacitados por suas dívidas.
Vale a pena reforçar e destacar a importância estratégica deste programa de revitalização do cacaueiro, com a conotação de “Puxador”, como um equivalente ao da Escola de Samba, que comanda 5.000 passistas cantando o samba enredo – uma espécie de “Jamelão do Cacau”.
Só assim e não há outra maneira, a região tomará outro fôlego com a geração de empregos e renda; dinamização de serviços gerais; reativação do comércio e da indústria de insumos agrícolas; e circulação integrada de recursos financeiros dos três segmentos econômicos, beneficiando toda região cacaueira e criando um ambiente de prosperidade, ânimo e fé, tendo o Homem no seu epicentro.
Luiz Ferreira da Silva* é agrônomo aposentado e foi diretor técnico de várias unidades da Ceplac na Bahia e na Amazônia
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